Esta é uma edição especial, parte do amigo secreto organizado pelo grupo Newsletter BR. Na brincadeira, o presente é uma edição da newsletter direcionada a quem foi sorteado. No decorrer do texto, você vai descobrir a pessoa que tirei. A carta deste mês é dedicada a ela, mas também a você =)
São Paulo, 21 de dezembro de 2024.
Namastê!
Hoje, no solstício de verão, o dia mais longo do ano, me organizo, após um 2024 bagunçado, para o ritual de fim de ano, limpando a casa e embrulhando presentes, aliviada com o final do ciclo e inspirada com o início do novo.
É sempre igual o Natal na minha família, e eu amo. No dia 24, chego na casa dos meus pais de manhã e o vaivém é centrado na preparação da ceia. A farofa já está pronta e minha mãe sempre faz uma parte separada pra mim, sem bacon e sem linguiça. Eu passo o dia dando colheradas nela.
Um dos meus momentos queridos é quando sentamos juntos para cortar as frutas da salada de frutas, cada um fica responsável por uma e rende sempre uma Tupperware enorme, finalizada com xarope de groselha; depois vem o corte das frutas para o ponche, mais delicadas, como os pêssegos em calda e as cerejas ao maraschino, que deixam as pontinhas dos dedos vermelhas.
Eu e meu irmão mais novo somos responsáveis pelas rabanadas. Todo ano, comentamos a intenção de não fritá-las, mas assá-las, para menos horas esquentando a barriga no óleo e menos gordura nas artérias. O plano nunca vai pra frente e o resultado é uma travessa repleta delas, besuntadas com bastante açúcar e canela. Eu gosto de comer quentinhas, meu irmão mais velho também, mas meu pai prefere no dia seguinte no café da manhã.
Não falta a jogatina do Banco Imobiliário. É comum passarmos um tempo e desistirmos, quem consegue terminar esse jogo?, mas são horas divertidas, embaladas pelo concerto de Natal na televisão.
Depois do Natal, sigo para a última semana de 2024 na região serrana do Rio de Janeiro, em um lugar que também posso chamar de casa. Lá, eu sou acolhida pela minha família espiritual, abraçada pela natureza e presenteada com o silêncio, externo e interno. Também ganho de bônus o contemplar do horizonte na linha infinita das montanhas que recebem o pôr do sol todos os dias.
Só bênçãos!
Quando visitei sua newsletter,
, também me senti em casa. Explorando seus Devaneios Criativos, pensei: “esses são temas que eu escreveria”. Em especial, quando você fala de cartas, em Escreva uma carta pra mim, que tem tudo a ver com a Uma com a Terra, mesmo que aqui eu me valha do instrumento tecnológico:“Escrever e receber cartas me passa uma sensação de intimidade e aproximação. É minha forma de resistência de fugir dos instantes acelerados que nos cercam e que fazem parecer a única maneira possível de existir no mundo.” (Carol Vidal)
O Comida, afeto e memória está conectado com o meu relato de Natal:
“Tenho muitas memórias da infância relacionadas à comida que envolvem momentos como os Natais caóticos na casa da minha avó paterna, o pavê que minha mãe sempre fazia em ocasiões especiais (ou quando a gente pedia mesmo) e o pão quentinho com patê que comia na casa da minha avó materna depois da escola, enquanto eu e meus irmãos esperávamos meus pais buscarem a gente.” (Carol Vidal)
Mas é no Caminho de casa que me vi mais próxima:
“Sempre fui uma pessoa em busca do “meu lugar no mundo”. Casa é onde me sinto parte - e isso não necessariamente significa um lugar físico.” (Carol Vidal)
Esses dias, eu refletia, de novo, onde é minha verdadeira casa. É uma questão que carrego já há algum tempo. No retorno do feriado de Natal, em 2019, postei duas fotos no meu, atualmente desativado, Instagram com a legenda:
“O que eu quero dizer é: são muitos os lares, muitos os horizontes. Tem o aconchego daquele que é familiar, onde estão as raízes, o início das descobertas, o acolhimento sempre que o coração pede. Tem aquele que abraça com generosidade no meio de uma confusa imensidão, e apresenta incontáveis possibilidades, por caminhos nem sempre fáceis, mas com valiosas recompensas. Tem ainda o desconhecido, o do futuro, que pode ser esse, aquele ou outro, mas não importa, porque lar é onde você está, agora, e eu só tô falando do de fora, porque o de dentro é infinito.” #homesweethome
Você faz uma correspondência muito boa dizendo que a escrita é uma casa onde você se sente muito à vontade para habitar. Exatamente! Também encontro abrigo na escrita, apesar de escrever ser a minha profissão no dia a dia, aqui, com essas cartas, tenho habitado um lugar pessoal de muita liberdade.
Além da escrita, a dança circular também me leva para esse estado. A primeira roda que participei foi na Umapaz, meu refúgio dentro do Parque do Ibirapuera. Lá, me sinto tão à vontade que até ando descalça. Os cursos, vivências e seres incríveis que encontro naquela casa, há tantos anos, me transformam a cada dia.
Essa transformação, na verdade, não é no sentido de mudar o que existe, mas de tirar as camadas que escondem aquilo que verdadeiramente é, sou, somos.
Lembro-me que quando visitei o ashram do meu professor espiritual, no Alentejo, fiquei isolada por uns dias antes de me integrar às atividades. Era uma medida de segurança em tempos de pandemia, mas, também, uma despressurização, como um período de transição do caos externo para o mergulho interno profundo.
No quarto em que eu fiquei, com uma cama, uma estante e um tapete, havia um livro-manual com instruções práticas para os próximos dias. Na primeira página, uma carta de boas-vindas finalizada com a mensagem: Welcome Home! Sim, era assim que eu me sentia, em casa, mas não fisicamente.
Na Escócia, cheguei a dormir em nove endereços. Foram nove quartos, nove camas. Uma aventura que ainda escreverei com detalhes, mas adianto que, mesmo compartilhando espaços e sabendo o limite temporal daquele morar, em todos eu me sentia em casa, seguindo o fluxo do momento presente, o único que existe.
Além da escrita, da dança e da espiritualidade, manifestações sutis do que podemos chamar de casa, sinto hoje que tenho muitos lares: minha casa em São Paulo, a casa dos meus pais, a da serra do Rio, a do portão 7A do Parque do Ibirapuera, a do sul de Portugal, as do norte da Escócia.
Também a natureza, que sou, que somos; e meu corpo, que me leva generosamente para todos esses lugares, e muitos outros, mas, principalmente, é morada da minha consciência, conectada ao coração, a qual, essa sim, é a minha verdadeira casa, com um quarto quentinho para o qual posso voltar sempre que preciso me sentir livre e amada, e que nutre a felicidade aonde quer que eu esteja.
Espero que você também reconheça esse lugar e possa sempre visitá-lo. Sei que às vezes nos perdemos para chegar nele, mas o silêncio interno é o nosso melhor guia e lá a porta está sempre aberta para nos receber. É lá nossa parte inteira.
Que em 2025 o caminho para essa verdadeira casa seja uma frequente presença <3
Feliz solstício!
Com amor,
Patricia ॐ